segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Lulismo, peronismo, mexicanização (Diario SP)

O andamento das atuais eleições confirma o nascimento do lulismo, com projeção nacional. É um fenômeno raro na política brasileira. Antes, houve apenas o getulismo, sob Getúlio Vargas e alimentado pelo culto à sua personalidade, especialmente entre 1937 e 1945, na ditadura do Estado Novo. Fora disso, só existiram ismos regionais, como o adhemarismo, o janismo e, mais recentemente, o malufismo no estado de São Paulo.

O surgimento do lulismo tem a forma da transferência de sua popularidade para os candidatos que apoia. O exemplo mais notório é o crescimento de sua escolhida para disputar a Presidência da República, alguém que nunca antes participara de eleição nenhuma. Outros exemplos ocorrem nas disputas estaduais, em que candidatos apoiados pelo presidente Luiz Inácio da Lula crescem na medida em que associam suas imagens à dele.

Esse fenômeno traz ao debate político a ameaça de domínio sufocante de uma única corrente política, com seus componentes nefastos de aparelhamento, corrupção, restrições à liberdade de expressão. Fala-se em peronismo e em mexicanização, remetendo-se ao que aconteceu na Argentina e no México durante quase todo o século 20. Na Argentina, o carisma de Juan Domingo Perón se estende até os dias de hoje. No México, o predomínio do PRI - Partido da Revolução Institucionalizada começou em 1926 e veio até 2000.

Num caso e noutro, os resultados não foram bons. A Argentina foi um dos países mais prósperos do mundo de meados do século 19 a meados do século 20. A ascensão do peronismo, com a exacerbação do nacionalismo e do intervencionismo, provocou a decadência do país. A Argentina de hoje é uma sombra pálida da pujança de cem anos atrás.

No México, o PRI de origem revolucionária se converteu aos poucos numa mistura espúria de sindicalistas, corporativistas, políticos fisiológicos. À força da fraude eleitoral e da violência institucionalizada, o PRI se perenizou sobre uma máquina administrativa marcada pela corrupção, pelo atraso tecnológico, e sobre uma pregação marcada pela demagogia, pela exploração da credulidade popular.

A pergunta no Brasil de hoje é: existe ameaça real de o lulismo repetir entre nós o peronismo argentino ou o PRI mexicano? Existe ameaça real de a corrupção, endêmica no alvorecer do lulismo, tornar-se epidêmica e alastrar-se? A resposta é sim e não. Sim, se prevalecer o que desejam os lulistas. Não, porque o Brasil não vai permitir. O Brasil de hoje, com a sofisticação de sua economia e o peso de suas instituições, não é terra para esse tipo de erva daninha vicejar.

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